Pipa

Na tentativa de olhar o céu
tropecei os olhos numa pipa
presa no verde da árvore.
A mim revelou-me não um menino que chora,
mas uma mulher de cabeça inclinada.
A pipa me olhava na brevidade do vento
e aquilo me comovia.
Continuei meus passos,
com a impotência de bicho sem asas.
Em meio aos galhos, a certeza do que era simples
e maior que eu.
Nada podia fazer, não poderia salvá-la...
Lentamente, voltei os olhos ao chão.
Nas raízes expostas estava uma folha,
já seca de tanto esperar
quem a guardasse num livro de Alberto Caeiro.
Apoiada ficou em seus versos.
E a pipa, velha amiga, ora me olha de longe,
ora eu a vejo delicadamente livre
em meus pensamentos.
Não há historiografia no gesto de ler
as árvores.

Agosto de 2015

5 comentários:

  1. Você é a pupila que supera a mestra. Nunca lhe ensinei a escrever, mas, com certeza, vou aprender com você. Seu texto é muito rico!

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    1. Paula, muito obrigada pela leitura. E é claro que você tem uma parte muito grande na minha formação. Se não fosse por você, eu não escreveria agora, não teria o prazer que tenho na escrita. Obrigada por tudo. Espero que goste dos textos. :)

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  2. Você é a pupila que supera a mestra. Nunca lhe ensinei a escrever, mas, com certeza, vou aprender com você. Seu texto é muito rico!

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  3. muito show!!! Vou passar a acompanhar! Seu blog é um presente para nós!

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    1. Evandro, que bom que venho me visitar! Fico feliz pelo carinho e espero que goste dos textos. É uma honra sua presença por aqui. Obrigada!

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