ao que não termina

há uma cruz nos meus olhos
onde enterro teus ossos todos
os dias, no fim da tarde

[morrer apenas o estritamente necessário
retirar teus ossos da minha carne 
ninar o medo das tuas mãos]

uma vez pequena, saber que o dia acaba
e a fresta de sol que aquecia a cama
seguiu teus pés pela janela

o livro me cobre os seios
rejeita em mim o que é sombra
a rosa das línguas não basta 

*



meu submarino sou eu
minha força de sonhar sou eu também
porque quando todos vão embora
eu me tranco aqui e tudo bem

❤️

no arranjo entre o sono e a chaga
meu bem, é tão distante
a palavra que não sai da tua boca
mas como me parecem próximas
as tuas dores

outono

de todas as folhas no chão, dentro das mãos guardei
a que mais se parecia com você: 
suas linhas perdidas, sem verso
ou som, um tom meio passado de chuva
e aquela aspereza dos dias mais difíceis
só para saber quanto tempo demora para ela se decompor
se vai levar uns meses, como você fez até sumir de vez
se vai levar o tempo da minha mão
até apertá-la e ela quebrar
todas as minhas expectativas



as tuas mãos

escrever um poema com as tuas mãos
é escrever a revolução dos dias
entrelaçar nossos dedos numa noite escura
passar pelos becos sem temer os passos
os pés enormes pisando histórias
os pés que ouvimos de cor
na cor sem força das tuas palavras

eu não poderia, ainda que fosse necessário
dizer ao tempo, sem dor nem asma
há quanto tempo espero as tuas mãos
dentro desta casa


*






embora

então , quando eu tiver ido, ficarão as flores para você cuidar não saberá qual foi a última vez em que as reguei o tempo de cada uma seu br...