Através do espelho

Ilustração de John Tenniel


Que gosto tem seu mundo,
menina de aventuras?
O pão saltitando no chão
é só uma borboleteiga inquieta
que já vai voar.

Meu mundo
é um espelho distorcido
sem rainha branca ou vermelha
um humpty dumpty
quadrado e escuro
(o que já não o torna
um humpty dumpty)

Não há quem me recite
um enorme poema písceo,
Alice.

Sabe me dizer que rio
devo pular para
avançar uma casa?
Não ouço resposta
das flores, não,
elas não me respondem
(talvez o canteiro seja fofo
demais)

No jogo do lado de cá
não há tempo para sonhos
não me torno uma rainha no final
corremos sem fôlego
e continuamos na mesma árvore,
sempre e sempre...
o relógio é um chapeleiro maluco,
mas nunca tem chá.

Que gosto tem seu mundo,
menina?

O meu, já nem quero mais provar.

Algum lugar fora daqui



minha cabeça
estava enfiada no aquário.
eu sufocava na água
de pensamentos
que eu não podia suportar.

a sinfonia dos meus erros
ressoando tão perto
tão perto de quem eu era,
eu tinha urgência
em acabar

meus olhos fechados
para a luz, as flores
já pensadas
para o final
meu momento
a minha vibração
dentro do vidro

os peixes mortos
na água que deslizava
das paredes dos meus ais.
fui conduzida pelo eco
agudofundo...

quebrou-se o vidro.
súbito que foi
não vi
não senti
não mais
nem dor

meu viveiro:
estilhaços
de esquecimento.

embora

então , quando eu tiver ido, ficarão as flores para você cuidar não saberá qual foi a última vez em que as reguei o tempo de cada uma seu br...