trânsito

o ônibus passa
e para.
da calçada, olhos
atravessam o vidro.
olhares bifurcados
insustentáveis em sua procura.

o vidro é uma armadura
reveste os ossos
improdutivos depois
das seis.

do lado de fora, o estrado
prolifera pernas e olhos
num espetáculo desastroso
de nunca chegar.

transito em passagens
nos recortes diários
de uma janela inorgânica.

olhos em guerrilha

I

dos olhos

fantasmas cansados
em solidária companhia.
incorporam-se à boca, à beira do barulho.

repetem, noite adentro, a fumaça
como uma cauda ausente de forma.
num esforço de pedra,
resistem com armas de nuvens.

II

da guerra

o despertador da guerra obriga um lado
mínimo relâmpago caindo
em sílabas nas pegadas e bocas .
estoura em segundos
feito a merda que sai.

III

do corpo

carrega os olhos soterrados nas pálpebras,
agora cegos, acumulam memórias.


embora

então , quando eu tiver ido, ficarão as flores para você cuidar não saberá qual foi a última vez em que as reguei o tempo de cada uma seu br...