não se pode levar muito a sério

o tom baixo da sua voz me exigia, vagaroso,
um esforço de todas as células e era impossível
desviar o olhar dos seus olhos e das suas mãos
preparando o café que eu tomaria, mesmo sem gostar

meu corpo fervia à medida da água
como é fácil criar a cena, enquanto se anda sem rumo
no meio dos ipês rosa de junho
(que eu não sabia que existiam)

não se pode levar muito a sério
a ideia de estar sem rumo no meio do poema ou do ipê
já que o poema não pode ser rosa e não sente
o frio fino do outro poema ou desta noite

sentar-se à avenida, sem ter o medo de cair nos buracos
de dentro da cabeça, não mais ter medo
das suas mãos e do que elas podem fazer
mas este não é o sentido do poema, não é o medo,
mas o sexo e o fogo fervendo a água do café

não se pode levar muito a sério
a ideia da água fervendo no meio do poema
porque noite passada sonhei que estava num show do radiohead
e, embora pareça tentador estar lá, você também estava e
atrapalhou todo o andamento da história do poema

entrar no seu tom não foi difícil, eu não sei gritar
bater palmas ou gargalhar não parece mais fácil
um poema não ri com você como eu podia




embora

então , quando eu tiver ido, ficarão as flores para você cuidar não saberá qual foi a última vez em que as reguei o tempo de cada uma seu br...