de dentro do casulo as vozes são imensas
e elas engolem cada passo em direção ao centro
do caos, do círculo de dentro 
abafam os sons e as vozes caem das pontas
não deixar a voz cair e equilibrista perder 
o rumo do som
por que fala tão baixo?
de onde vem esse silêncio extremo?
de fora dos seus olhos só vejo cacos
perdeu a voz gritando contra o vento 
e agora murmura nas paredes de dentro
quebrar a raiz da língua com unhas e dentes
deixar os dentes caírem durante o sonho 
mastigar as vozes que não a deixam falar
mastigar e mastigar e mastigar 
como um chicletes que você detesta 
pelo prazer de não fazer silêncio
pelo prazer de gritar: silêncio! minha voz vai falar
na hora de gritar, deixei cair o microfone 
e lá se vai minha voz, encolhida no casulo
de dentro do casulo, as vozes são imensas
e elas engolem cada passo em direção ao centro




"A noite negra me deu olhos negros, mas eu os utilizo para buscar a luz"

a victor heringer 

lia sobre porcos e machados
e, como sempre sonhava com a violência
reprimida, não foi difícil identificar
naquele texto de um victor que se foi
o cinza, o cinza se repetindo nas letras
comecei o outono achando que esta seria 
a estação mais triste 
mas como poderia saber, se quase todos os dias
recolho uma folha do chão e guardo em um livro
minhas mãos em suas linhas 
[porque é preciso se colocar no poema]
nem sempre se pode falar de outras mãos 
e fugir das próprias
ouvir os porcos e erguer lâminas
nos olhos



ao que não termina

há uma cruz nos meus olhos
onde enterro teus ossos todos
os dias, no fim da tarde

[morrer apenas o estritamente necessário
retirar teus ossos da minha carne 
ninar o medo das tuas mãos]

uma vez pequena, saber que o dia acaba
e a fresta de sol que aquecia a cama
seguiu teus pés pela janela

o livro me cobre os seios
rejeita em mim o que é sombra
a rosa das línguas não basta 

*



meu submarino sou eu
minha força de sonhar sou eu também
porque quando todos vão embora
eu me tranco aqui e tudo bem

❤️

no arranjo entre o sono e a chaga
meu bem, é tão distante
a palavra que não sai da tua boca
mas como me parecem próximas
as tuas dores

outono

de todas as folhas no chão, dentro das mãos guardei
a que mais se parecia com você: 
suas linhas perdidas, sem verso
ou som, um tom meio passado de chuva
e aquela aspereza dos dias mais difíceis
só para saber quanto tempo demora para ela se decompor
se vai levar uns meses, como você fez até sumir de vez
se vai levar o tempo da minha mão
até apertá-la e ela quebrar
todas as minhas expectativas



as tuas mãos

escrever um poema com as tuas mãos
é escrever a revolução dos dias
entrelaçar nossos dedos numa noite escura
passar pelos becos sem temer os passos
os pés enormes pisando histórias
os pés que ouvimos de cor
na cor sem força das tuas palavras

eu não poderia, ainda que fosse necessário
dizer ao tempo, sem dor nem asma
há quanto tempo espero as tuas mãos
dentro desta casa


*






morrer apenas o estritamente necessário,
enquanto o assassino não vem

María, Fabian Bertona 


embora

então , quando eu tiver ido, ficarão as flores para você cuidar não saberá qual foi a última vez em que as reguei o tempo de cada uma seu br...