Big Eyes

de Margaret keane




pela fresta da porta
desvelei o quarto
a cama os sapatos
tortos no chão

com meus grandes olhos
percebi as roupas
sujas e sem corpo no
piso branco ainda
sem sangue

eu criança amedrontada
acuada pelo lado de cá
da parede com marcas
de memória e medo

me vi só, com a sombra
de minha cabeça grande
de menina inda pequena
com água salgada

sim, e eu olhava
e não havia ninguém
a me confessar
a mentira
na escuridão
por trás de mim

pelo vão eu vi
eu vi no meu traço
delineado no papel
o espaço entre mim
e o assombro

e continuo lá
impregnada nas paredes
e portas e rachaduras
lembranças ocas
de meu cadáver
anterior.


Um comentário:

  1. Seu poema "Big Eyes" me fez lembrar de um conto a história é de uma mulher que escreve uma espécie de diário, cujo marido é um médico e a confinou em um quarto que ele alugou durante o verão. Ela é proibida de trabalhar e se vê obrigada a esconder dele o seu diário, para que ela possa se recuperar do que ele diagnosticou como sendo uma "depressão nervosa temporária - uma leve tendência histérica", um caso comum nas mulheres dessa época. As janelas do quarto possuem grades e há um portão no topa das escadas, permitindo a seu marido controlar seu acesso ao restante da casa.

    O conto ilustra o efeito do confinamento na saúde mental da narradora, e sua propensão à psicose. Não tendo nada para estimulá-la, ela se torna obsessiva pela textura e cor do papel de parede do quarto. "É do amarelo mais estranho, esse papel de parede! Me faz lembrar de todas as coisas amarelas que eu já vi - não coisa lindas como botões-de-ouro, mas ouro envelhecido, e péssimas coisas amarelas. Mas tem algo de errado nesse papel de parede - o cheiro!... A única coisa que eu posso pensar sobre isso é que é a cor do papel de parede! Um cheiro amarelo."

    No fim, ela imagina que há mulheres arrastando-se atrás do papel de parede amarelo, e chega a acreditar que ela é uma delas. Ela se tranca no quarto, que agora é o único lugar onde ela se sente segura, recusando-se a sair dali quando o aluguel do quarto expira. O nome do conto é The Yellow Wallpaper e o nome da autora é Charlotte Perkins Gilman. Muito bom, aposto que você já leu.

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embora

então , quando eu tiver ido, ficarão as flores para você cuidar não saberá qual foi a última vez em que as reguei o tempo de cada uma seu br...