Não estou preparada para a morte. Não a minha morte. Para ela me preparo todos os dias. Saio correndo, à espera de tropeçar numa pedra, bater a cabeça no meio-fio, naquele lugar da cabeça onde tudo é fatal. Ando de bicicleta, defeituosa nos freios, e desço um enorme morro esburacado. Atravesso sem olhar para os lados. Abraço estranhos. Busco a morte, distraidamente, mas ela sempre me escapa. Para a minha morte me preparo como se passasse um café amargo (que nunca bebo, pois não gosto de café).
Não estou preparada para a morte dos poetas, para a morte das folhas e dos bichos de estimação. Não estou preparada para a morte de quem dorme do meu lado. De quem me sorri do ônibus e atravessa a rua, sempre atento. De quem toma um sorvete e me oferece um pouquinho. Não estou preparada para a morte que não depende de mim. E estou sempre me despedindo.
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embora
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